COMO A GESTÃO DA LOGÍSTICA PODE IMPACTAR A CONTA HOSPITALAR


Profissionalizar a gestão de logística de uma instituição de saúde  pode aumentar não só a eficiência operacional, mas ser  determinante para o faturamento.


Mayuli, da UniHealth: "Normalmente, logística é o último ponto de atenção dos gestores hospitalares'"




Organizar  toda  a  cadeia  de  suprimentos  de  uma  instituição  de  saúde  pode  auxiliar  não  só  as  equipes assistenciais na hora de utilizar insumos e administrar medicações, mas organizar as contas no momento da cobrança pelo departamento administrativo e, principalmente, reduzir o desperdício e o impacto financeiro com a má utilização dos materiais. No entanto, implementar uma  gestão  logística  eficiente  pode  significar  um  grande  desafio,  tendo  em  vista  a  mudança cultural que precisa ser efetuada nas equipes assistenciais e profissionais dos almoxarifados.

Para a diretora de novos negócios da UniHealth, empresa especializada em gestão de logística hospitalar, Mayuli Fonseca, a prática  da gestão  profissional  nesse segmento ainda é muito insipiente e, só nos últimos três anos, o mercado tem mostrado preocupação sobre o assunto, ainda pouco abordado. “Isso é muito preocupante, pois cerca de 50% do custo efetivo de uma  instituição  de  saúde  está  em  materiais  e  medicamentos.  A  má  gestão  desses produtos  atinge  diretamente  os  resultados  da  instituição.  Hoje  cerca  de  40%  da  receita do  hospital  é  oriunda  desses  materiais,  o  que  leva  essa  gestão  ineficiente  a  impactar também  no  lucro  da  instituição.  O  que  vemos  muito  é  a  falta  de  foco,  ou  a  gestão  sendo realizada de forma manual.”


O primeiro erro cometido pela maioria dos hospitais é a falta de foco nesse tipo de programa. “Normalmente, logística é o último ponto de atenção dos gestores hospitalares, o que acarreta na  falta  de  profissionais  qualificados,  infraestrutura  de  armazenagem  adequada  e  a  falta  de tecnologia  e  informação  específica  para  esta  área”,  comenta  a  executiva.  “Em  hospitais administrados  por  médicos  onde  há  um  foco  muito  mais  voltado  para  a  área  clinica,  toda  a parte  de  apoio,  como  a  gestão  de  suprimentos,  fica  um  pouco  defasada,  com  falta  de investimentos  e  até  tecnologia  inadequada,  a  gestão  acaba  com  um  custo  maior  do  que  o necessário”, completa Mayuli.



Segundo a executiva, a falta de sistemas de informação que atendam as exigências da gestão de  suprimentos  também  merece  destaque,  pois  os  softwares  de  gestão  hospitalar  possuem módulos  de  gerenciamento  de  suprimentos  que,  geralmente,  são  chamados  de  compras  e logística  e  não  atendem  integralmente  a  demandas  das  unidades  de  saúde,   impossibilitando uma gestão eficiente de logística hospitalar.


Para  sanar  estes  gargalos  logísticos  nos  hospitais,  uma  série  desafios  precisa  ser  superada. Para  o  executivo  da  LogiMed,  empresa  brasileira  de  logística  hospitalar,  Alexandre  Dib,  é necessário  que  ocorra  uma  quebra  de  paradigma  nessa  gestão,  onde gestores e administradores  de  unidades  de  saúde  insistem  em  colocar  profissionais  pouco  qualificados para gerenciar seus estoques. “Outro fator é a mudança cultural dos profissionais de saúde que precisam entender que não há a necessidade de estocar materiais em postos de enfermagem, escritórios  ou  centros  cirúrgicos  uma  vez  que  há  controle  e  abastecimento  de  acordo  com  as demandas das equipes.”

Dib explica que a gestão de suprimentos de um hospital vai muito além de agulhas, seringas ou medicamentos.  Ela  abrange  todo  tipo  de  suprimento  em  uma  instituição,  desde  o  papel utilizado  para  realizar  as  faturas  pelo  departamento  administrativo  até  o  material  que  é utilizado  nas  UTIs  ou  salas  cirúrgicas.  “Todas  as  áreas  do  hospital  são  influenciadas pela  logística.  É  óbvio  que  áreas  críticas  como  as  UTIs  e  centros  cirúrgicos  possuem  um estresse maior em relação ao abastecimento”.

Um  estudo  realizado  pelo  pesquisador  do  Centro  de  Estudo  em  Logistica  da  Universidade Federal  do  Rio  de  Janeiro  (UFRJ)  ,  Peter  Wanke,  em  2005,  apontou  que,  entre  35%  e  50% dos custos em uma organização privada de saúde estão ligados à gestão de estoque.

O  diretor  geral  adjunto  da  HLL,  empresa  espanhola  especializada  em  compras  e  logística hospitalar,  Vicente  Berzosa,  ressalta  que  uma  boa  gestão  logística  impactará  diretamente  os níveis  de  estoque,  reduzindo  o  valor  do  inventário  ocioso,  eliminando  focos  de  ineficiência como  materiais  e  medicamentos  vencidos  e  custos  extras  gerados  com  abastecimentos emergenciais. “Um modelo logístico bem desenhado  proporcionará processos mais dinâmicos e seguros, que farão aumentar a produtividade e reduzir os tempos de trabalho nos hospitais.”

Além do impacto operacional causado pela gestão, Mayuli afirma que o bom planejamento dos estoques  e  sistemas  de  compras  podem  não  só  reduzir  o  custo  do  hospital,  mas  aumentar  a rentabilidade  da  instituição,  uma  vez  que  a  rastrabilidade  dos  insumos  torna-se  eficiente  e  o desperdício  é  drasticamente  reduzido.  “A  logística  hoje  é  essencial  para  o  custo  de  todo  o sistema  de  saúde,  quanto  melhor  a  gestão  logística  melhor  o  desempenho  financeiro  desse sistema.”

Na Prática 
Localizado  na  capital  paulista,  o  Hospital  Geral  da  Vila  Penteado  realiza,  em  média,  17  mil atendimentos em seu pronto socorro e cerca de 1250 internações por mês. Segundo a gerente de  operação,  Patricia  Lazzarini,  antes  de  adotar  um  sistema  de  gestão,  o  hospital  não  tinha logística  de  suprimentos.  “O  que  existia  era  um  sistema  que  não  contemplava  todas  a  cadeia de abastecimento, e se restringia basicamente a verificação de consumo”.

A  gerente  explica  que,  após  a  decisão  de  profissionalizar  a  gestão  logística  do  hospital,  a primeira  medida  tomada  foi  a  construção  do  inventário  com  todo  material  do  almoxarifado usado  na  unidade  de  saúde,  que  gira  em  torno  de  R$2,8  milhões  e  possui  cerca  de  2,5  mil itens.

A  principal  mudança  que  percebemos  após  essa  implementação  é  que  o  hospital  passou  a trabalhar com um estoque muito mais enxuto. “Após alguns meses da implementação notamos que  anteriormente  o  hospital  trabalhava  com  mais  de  50%  do  estoque  superior  há  um  ano  e hoje nós enxugamos isso para evitar desperdício. Atualmente, o giro de nosso estoque ocorre em  torno  de  seis  meses  devido  ao  processo  de  licitação  que  demora  mais  ou  menos  três  ou quatro meses.”

Outra mudança apontada por Patrícia foi a redução no desperdício de insumos e o aumento da eficiência das equipes assistenciais, que deixaram de se preocupar com a falta de material.





O VERDADEIRO PAPEL DO LÍDER


A mudança é inexorável e cada vez mais rápida... Mas, qual será o papel que um líder tem num contexto tão  crítico como este?

Nada  é  mais  certo  do  que  a  impermanência.  Toda  idéia  de  estabilidade  morre  mesmo  numa observação  rasa  de  qualquer  aspecto  da  vida,  desde  o  movimento  das  galáxias  até  a  menor das células.

Isto fica evidente ao considerarmos o fator humano que, por mais que exista um grande desejo por  definição, é diferente em cada momento. Não precisa se abrir muito no tempo para perceber mudanças drásticas e comportamento e visão de uma mesma pessoa.

O indivíduo não é uma somatória de experiências mas, sim, uma  resultante de uma miríade de fatores que vão desde aspectos biológicos e emocionais até seu entorno. 

Da  mesma  maneira,  as  organizações  podem  guardar  traços  específicos  mas,  também  estão sempre em mutação. Quando falamos em cultura, ou seja, “a maneira de ser e se  comportar”, nos damos conta que existe uma variabilidade importante em torno de um eixo central. 

Este  eixo  central  é  formado  e  mantido  por  pessoas,  o  que  é  mais  notório  em  organizações menores  ou  mais  centralizadas  na  figura  de  um  líder  modelador,  ou  seja,  uma  pessoa  que tende a impor suas idéias e modelos. E é aí que existe um grande risco. 

Ocorre  que  um  perfil  modelador  não  estimula  a  responsabilização  e  desenvolvimento  das pessoas  e,  por  consequência,  da  própria  organização.  Enquanto  o  sonho  de  um  líder modelador é uma equipe de exímios executores, um líder visionário sonha em ter uma equipe de líderes. 

Líderes que enxergam com clareza para onde a empresa vai e seu papel neste caminho, que pensam “fora da caixa”, inovando.

Líderes que inspiram suas equipes, que escutam, que estimulam a participação inteligente de todos num objetivo comum. E assim, se tornam excelentes executores, por responsabilização e não por imposição. 

Estamos falando de líderes que têm que além da autoridade, uma grande responsabilidade. E, nada disso está restrito aos gestores, cada profissional deve ver-se como líder, mesmo que seja de um processo aparentemente simples.

Nunca  é  demais  lembrar  que,  assim  como  um  organismo  vivo,  basta  que  um  pequeno  órgão deixe de funcionar corretamente para que se instale o desequilíbrio e sobrevenha a morte.

O  setor  da  saúde  defende  a  necessidade  de  mudanças,  de  uma  evolução  na  gestão  que acompanhe a evolução tecnológica porém, só que isso não está restrito às mudanças externas mas, em cada pessoa. 

Contudo,  enquanto  prevalecer  a  vaidade  e  a  teimosia  de  líderes  antiquados,  a  evolução  das pessoas e das organizações ficam comprometidas e, como num organismo vivo, pode levar até à morte. 

A mudança é certa.

E  também  algo  é  certo:  quem  não  for  agente,  será  vítima  desta  mudança.  É  para pensar… E agir!