Profissionalizar a gestão de logística de uma instituição de saúde pode aumentar não só a eficiência operacional, mas ser determinante para o faturamento.
Mayuli, da UniHealth: "Normalmente, logística é o último ponto de atenção dos gestores hospitalares'"
Organizar toda a cadeia de suprimentos de uma instituição de saúde pode auxiliar não só as equipes assistenciais na hora de utilizar insumos e administrar medicações, mas organizar as contas no momento da cobrança pelo departamento administrativo e, principalmente, reduzir o desperdício e o impacto financeiro com a má utilização dos materiais. No entanto, implementar uma gestão logística eficiente pode significar um grande desafio, tendo em vista a mudança cultural que precisa ser efetuada nas equipes assistenciais e profissionais dos almoxarifados.
O primeiro erro cometido pela maioria dos hospitais é a falta de foco nesse tipo de programa. “Normalmente, logística é o último ponto de atenção dos gestores hospitalares, o que acarreta na falta de profissionais qualificados, infraestrutura de armazenagem adequada e a falta de tecnologia e informação específica para esta área”, comenta a executiva. “Em hospitais administrados por médicos onde há um foco muito mais voltado para a área clinica, toda a parte de apoio, como a gestão de suprimentos, fica um pouco defasada, com falta de investimentos e até tecnologia inadequada, a gestão acaba com um custo maior do que o necessário”, completa Mayuli.
Para sanar estes gargalos logísticos nos hospitais, uma série desafios precisa ser superada. Para o executivo da LogiMed, empresa brasileira de logística hospitalar, Alexandre Dib, é necessário que ocorra uma quebra de paradigma nessa gestão, onde gestores e administradores de unidades de saúde insistem em colocar profissionais pouco qualificados para gerenciar seus estoques. “Outro fator é a mudança cultural dos profissionais de saúde que precisam entender que não há a necessidade de estocar materiais em postos de enfermagem, escritórios ou centros cirúrgicos uma vez que há controle e abastecimento de acordo com as demandas das equipes.”
Dib explica que a gestão de suprimentos de um hospital vai muito além de agulhas, seringas ou medicamentos. Ela abrange todo tipo de suprimento em uma instituição, desde o papel utilizado para realizar as faturas pelo departamento administrativo até o material que é utilizado nas UTIs ou salas cirúrgicas. “Todas as áreas do hospital são influenciadas pela logística. É óbvio que áreas críticas como as UTIs e centros cirúrgicos possuem um estresse maior em relação ao abastecimento”.
Um estudo realizado pelo pesquisador do Centro de Estudo em Logistica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) , Peter Wanke, em 2005, apontou que, entre 35% e 50% dos custos em uma organização privada de saúde estão ligados à gestão de estoque.
O diretor geral adjunto da HLL, empresa espanhola especializada em compras e logística hospitalar, Vicente Berzosa, ressalta que uma boa gestão logística impactará diretamente os níveis de estoque, reduzindo o valor do inventário ocioso, eliminando focos de ineficiência como materiais e medicamentos vencidos e custos extras gerados com abastecimentos emergenciais. “Um modelo logístico bem desenhado proporcionará processos mais dinâmicos e seguros, que farão aumentar a produtividade e reduzir os tempos de trabalho nos hospitais.”
Além do impacto operacional causado pela gestão, Mayuli afirma que o bom planejamento dos estoques e sistemas de compras podem não só reduzir o custo do hospital, mas aumentar a rentabilidade da instituição, uma vez que a rastrabilidade dos insumos torna-se eficiente e o desperdício é drasticamente reduzido. “A logística hoje é essencial para o custo de todo o sistema de saúde, quanto melhor a gestão logística melhor o desempenho financeiro desse sistema.”
Na Prática
Localizado na capital paulista, o Hospital Geral da Vila Penteado realiza, em média, 17 mil atendimentos em seu pronto socorro e cerca de 1250 internações por mês. Segundo a gerente de operação, Patricia Lazzarini, antes de adotar um sistema de gestão, o hospital não tinha logística de suprimentos. “O que existia era um sistema que não contemplava todas a cadeia de abastecimento, e se restringia basicamente a verificação de consumo”.
A gerente explica que, após a decisão de profissionalizar a gestão logística do hospital, a primeira medida tomada foi a construção do inventário com todo material do almoxarifado usado na unidade de saúde, que gira em torno de R$2,8 milhões e possui cerca de 2,5 mil itens.
A principal mudança que percebemos após essa implementação é que o hospital passou a trabalhar com um estoque muito mais enxuto. “Após alguns meses da implementação notamos que anteriormente o hospital trabalhava com mais de 50% do estoque superior há um ano e hoje nós enxugamos isso para evitar desperdício. Atualmente, o giro de nosso estoque ocorre em torno de seis meses devido ao processo de licitação que demora mais ou menos três ou quatro meses.”
Outra mudança apontada por Patrícia foi a redução no desperdício de insumos e o aumento da eficiência das equipes assistenciais, que deixaram de se preocupar com a falta de material.